quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Economia e Crise



Por Gabriel Mamed
Economista. Professor do curso de Administração da FMP/Fase

A Ciência Econômica, definida como “a ciência que busca administrar recursos escassos, com a finalidade de promover o bem-estar social”, ao contrário do que muitos pensam, não é uma ciência exata. Embora transite por complicadas equações matemáticas e estatísticas, é uma ciência social aplicada, o que a torna ainda mais difícil, uma vez que qualquer política, ao ser implementada, dependerá, para o seu sucesso, das expectativas e reações – positivas ou negativas – daqueles a quem a referida ciência chama de agentes econômicos, ou seja, indivíduos, empresas e o próprio governo.

Costumo frisar aos meus alunos do curso de Administração, que a credibilidade por parte dos agentes assume papel fundamental na economia e no processo decisório das diferentes organizações. Caso acreditem em determinada medida, a apoiarão. Caso não, procurarão boicotá-la ou defender-se, fazendo com que a política não apresente o resultado esperado.

Como é sabido, as diversas áreas do conhecimento não são fechadas em si mesmas, mas relacionam-se com diversas outras. Isso acaba por gerar uma série de influências e inter-relações que poderão alterar, de um momento para outro, o quadro econômico. No caso da Economia, a mesma sofre grande influência de variáveis históricas, políticas e sociais, além de interesses particulares. Essa confluência de fatores nos traz ao momento atual de crise. Num mundo cada vez mais globalizado, o ambiente internacional também pode contaminar positiva ou negativamente a Economia. 

No aspecto econômico interno, políticas mal implementadas e gastos governamentais excessivos e mal geridos tiveram papel crucial para as dificuldades ora vividas.

O quadro político que vivemos, caracterizado pela disputa pelo poder, polarização ideológica, escândalos de corrupção e instabilidade governamental, influencia junto aos indivíduos e empresas de modo que os agentes procuram se defender das incertezas geradas, inibindo novos investimentos produtivos ou adiando planos de consumo. Essas atitudes somente agravam a situação econômica. Menos investimentos significam menos empregos, menos salários e menos tributos, dificultando o atendimento às diversas demandas sociais. Menos consumo significa redução no padrão de vida da população e do fluxo de recursos que realimenta o processo produtivo.

Além disso, investidores e indivíduos buscam proteger o valor de suas reservas monetárias adquirindo ativos de maior segurança, como por exemplo, os indexados ao dólar. Dessa forma, com o aumento da demanda, a taxa de câmbio refletirá um aumento no preço da moeda estrangeira, valorizando-a, em detrimento do valor da moeda nacional. Se, por um lado, isso pode significar maior vantagem para os exportadores, por outro pode prejudicar as empresas que importam matérias-primas e equipamentos para o seu processo produtivo, elevando seu custo.

Com a elevação do câmbio, o combate à inflação também fica prejudicado, por conta do aumento de preço das importações e do direcionamento da produção ao mercado externo, reduzindo a oferta interna. A busca pela taxa de câmbio mais favorável será papel do Banco Central do Brasil, que atuará no sentido de induzir o valor do dólar, mediante a utilização das reservas internacionais, hoje em torno de US$ 370 bilhões. Resta saber se essa atuação será suficiente para superar as expectativas negativas de indivíduos e empresas.

Esse movimento de elevação da moeda internacional mostra, claramente, a influência do elemento político e do fator psicológico na reação da sociedade, e seus reflexos sobre o ambiente econômico.

Portanto, até que os ânimos se acalmem no cenário político, a economia estará sujeita a movimentos de alta e de baixa, navegando ao sabor dos acontecimentos.

Às empresas e investidores cabe monitorar as medidas tomadas pelo governo para debelar a crise de credibilidade e diminuir as incertezas, e acompanhar os indicadores econômicos e a situação política, para decidirem o momento certo de voltar a investir, com riscos mais aceitáveis.

À sociedade de maneira geral cabe promover o consumo responsável, evitando endividamento desnecessário, precavendo-se, assim, de qualquer surpresa negativa no futuro.

A todos, a necessidade de ser dada maior atenção aos aspectos políticos, uma vez que, mesmo que não pareça, interferem sobremaneira no desenvolvimento econômico do país.

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Departamento de Comunicação Faculdade Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis