quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Perder faz parte

Rovena Paranhos (*)

Competir, por si só, pressupõe ganhadores e perdedores. Essa simples evidência parece, hoje, coisa de um passado distante, já que, na sociedade contemporânea, a competição se estabeleceu como modo de vida em tudo e para todos. Nesse sentido, perder e ganhar — situações que naturalmente se alternam — não mais se configuram como naturais. Ao contrário, ganhar, e ganhar sempre, passou a ser a obrigatória lógica atual. Mas não seria essa uma lógica ilógica? Um paradoxo? Um contrassenso? Uma irrealidade? Uma lógica perversa? Parece que sim. Dita lógica é perversa.
           
Perversa porque naturaliza o que não é natural; em qualquer competição há ganhadores e perdedores. Perversa porque, ao naturalizar o ato de ganhar sempre, não admite a derrota. Perversa porque, ao não admitir a derrota, não prepara quem quer que seja para ela; mesmo sendo uma condição inevitável para qualquer um a qualquer tempo. Perversa porque, ao não preparar quem quer que seja para inevitáveis derrotas, não permite que se aprenda a lidar com a frustração. Perversa porque ao não possibilitar a vivência natural da frustração, finda por pavimentar o caminho para a desistência e para o adoecimento.


Hoje, muito mais estamos sendo confrontados com notícias de desportistas que desistem de suas trajetórias, com desportistas que são pegos em exames de doping, com desportistas que fazem uso de substâncias psicoativas. Tudo isso leva a crer que a competição no esporte está perdendo sua finalidade última, qual seja a de ensinar a todos — sem exceção — que a vida é feita de sucessos e de fracassos, de vitórias e de derrotas. E que somente ao experimentar o fracasso de uma derrota, poderemos viver a plenitude do sucesso de uma vitória. O ganho de se permitir a vivência dessas experiências, sem sombra de dúvida, é o de pavimentar o caminho para uma vida física, mental e socialmente saudável.

(*) Coordenadora do Curso de Psicologia da FMP/Fase.

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