GABRIEL MAMED
Economista e professor da FMP/Fase
Atualmente, vivemos dias difíceis.
Escândalos de todos os tipos têm vindo à tona, evidenciando a
corrupção. Mas o que é a corrupção, que tanto estrago causa à
sociedade? O termo tem origem no verbo corromper, que significa tornar podre,
quebrar aos pedaços, deteriorar ou perverter moralmente. É um fenômeno mundial
e atravessa os tempos. E o que faz com que alguns ajam de maneira indevida para
alcançar algum tipo de vantagem?
Primeiramente, a corrupção não é
praticada apenas por políticos e empresários. Toda a sociedade está sujeita a
ela, cometendo as pequenas infrações do dia a dia, que se inserem no conceito
de corrupção: furar filas, subornar para se livrar de uma multa, colar em uma
prova, entre outras formas.
Alguns fatores, embora não a
justifiquem, ajudam a explicá-la. O primeiro diz respeito ao que ocorre com
nossa escala de valores, isto é, o modo como as pessoas e as organizações estão
se comportando e relacionando. O que aconteceu à ética, à
honestidade, à justiça, à lealdade, aos valores morais?
O primeiro grupo em que o indivíduo
se vê inserido é a família, sendo esta a responsável por lhe passar as
principais regras de comportamento e os principais valores, educando a pessoa
para a vida em sociedade. Contudo, muitas vezes vemos famílias desestruturadas,
problemas e dificuldades familiares que influenciam negativamente essa pessoa,
que se desenvolve em meio a expedientes que deixam a desejar em termos de
comportamento ético, mas que se mostram, às vezes, como a única maneira de
sobreviver.
Outra questão que contribui para o
atual estado das coisas é a disseminação do famoso “jeitinho”, a busca de
soluções fáceis e rápidas para determinados problemas. A prática, muitas
vezes inconsciente, porque já está enraizada culturalmente e é tida como
normal, acaba sendo estimulada por outro elemento: a impunidade, que se
realimenta, não só dos interesses de alguns, como também do exemplo dado por
governantes – que saem da própria sociedade - e da visão de serem esses
pequenos atos de corrupção, atos que não geram grande prejuízo a ninguém.
O comportamento do indivíduo passa,
muitas vezes, para as organizações (políticas, empresariais ou do terceiro
setor), que são compostas e dirigidas por esses mesmos indivíduos, e que muitas
vezes corrompem e se deixam corromper, em troca de poder, vantagens ou de
lucros maiores. Nesse caso, o crime de corrupção leva a outros crimes, como o
tráfico de influência, subtração dos recursos públicos, sonegação, desfalques,
peculato etc.
Com relação, ainda, a essas
organizações, é necessário que as práticas de compliance sejam
exercidas, ou seja, que as instituições ajam com respeito às regras
estabelecidas, interna e externamente. Essa atividade, atualmente, reveste-se
de um caráter profissional, e vai além da observância desses preceitos, mas é a
eles que me refiro. É importante destacar que o compliance é
um grande aliado da empresa, pois influencia na boa imagem da organização junto
ao mercado, o que pode lhe garantir expansão das vendas e maiores lucros, sem
recorrer a expedientes ilegais.
Está claro que a corrupção cria
insegurança, principalmente quando atinge o Estado, elemento responsável por
prover o bem-estar social. Dependendo do grau de envolvimento dos agentes
públicos e dos danos causados, pode gerar desconfiança de investidores,
empresários e consumidores com relação às políticas governamentais, o que
resultaria em crise, não apenas política, mas também econômica, como vemos
agora.
A solução? Está em nós mesmos, sendo
necessário que cada indivíduo faça um reexame de suas práticas, criando o
seu self-compliance, ou seja, monitorando a si mesmo quanto aos
seus valores.